Existem ruas em Cusco, ou como são chamadas em espanhol, “callecitas”, que recebem nomes em quechua, e não é por acaso: elas são relatos vivos de uma história rica e complexa. Cada nome de rua carrega em seu nome, um capítulo importante da cultura quechua, desde as tradições guerreiras até a veneração de divindades, como o sol e o puma. Ao caminhar por estas “calles”, visitantes e residentes experimentam a fusão única do antigo ao moderno, onde cada paralelepípedo conta uma história, e cada nome, em quéchua, ressoa como um eco do passado. Cusco, com suas “calles” impregnadas do idioma, se consagra como sendo um testemunho tangível da herança cultural que perdura no coração dos Andes peruanos.
Introdução
O quechua emerge, na cidade de Cusco, como um tesouro cultural. O idioma não é utilizado, simplesmente, como um meio de comunicação, mas uma expressão viva da identidade e herança cultural da região. Através desta língua, as tradições, costumes e conhecimentos transmitidos pelos incas persistem no próprio tecido da sociedade cusquenha. Este fio que une o passado ao presente é um testemunho tangível da grandeza histórica dos incas, não fazendo com que às gerações atuais esqueçam o seu legado, e a importância de preservar e honrar suas raízes culturais.
A riqueza linguística e cultural do quechua não é valiosa apenas no seu contexto local, mas também contribui para a diversidade cultural global. A preservação e promoção do idioma nativo, não apenas garante a continuidade de uma língua única, mas também enriquece a compreensão global da diversidade cultural, e da importância de manter viva a rica herança das civilizações passadas.
Importância
A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) tem demonstrado um forte compromisso na promoção e preservação das línguas indígenas em todo o mundo, reconhecendo a importância delas, como parte integral do patrimônio cultural e linguístico da humanidade.
O Peru é reconhecido por sua diversidade linguística, e é certo afirmar que abriga uma grande quantidade de línguas originárias. O número exato pode variar conforme as fontes e as classificações utilizadas. Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Informática (INEI) do Peru, em seu Censo Nacional de População e Habitação de 2017, foram identificadas 48 línguas indígenas, e entre as mais faladas, no Peru, estão o quechua e o aimará. Essas duas línguas têm uma presença significativa nas regiões andinas, fazendo parte integral da identidade cultural de muitas comunidades. Além disso, existem inúmeras línguas indígenas amazônicas nas regiões selváticas do país, como o shipibo, o awajún, o aguaruna, entre outras.
A preservação e a revitalização dessas línguas indígenas é importante para conservar a rica diversidade cultural do Peru. As instituições governamentais e organizações, muitas vezes em colaboração com a UNESCO e outros parceiros, trabalham para promover o respeito e a valorização dessas línguas, assim como para garantir a sua transmissão às gerações futuras.
Em Cusco, segundo o último censo oficial, de um milhão de cusquenhos, 55,2% declarou que aprendeu o quechua como sua primeira língua, e 74,7% se declarou culturalmente quéchua. De fato, o idioma está muito presente na cidade de Cusco. Você pode ouví-lo nas conversas das pessoas pelas ruas, nas músicas populares, em algumas redes de comunicação e também vê-lo presente em alguns nomes de ruas.
Nomes das ruas de Cusco em quechua
Caminhar por Cusco é uma sensação única de conexão com a história e suas montanhas. A cidade foi o coração da civilização Inca, e por este fato, não se apresenta apenas como um destino turístico fascinante, mas também como um testemunho vivo da influência do idioma quechua, que se manteve, ao longo dos séculos. Sem dúvida, um dos primeiros elementos que chama a atenção das pessoas são as ruas, “callecitas” que revelam uma história única, através de seus nomes em quechua. Esses caminhos de pedra se tornam mais do que mero lugar de passagem, pois são narradores silenciosos da identidade cultural quechua, impregnada em cada canto de Cusco. Neste blog, vamos explorar a magia despertada, quando seus passos se entrelaçam com as ruas, de nome quechua, de Cusco. Acompanhe-nos para descobrir alguns segredos do Tawantinsuyu.
1.- RUA HATUNRUMIYOC (HATUN RUMIYUQ)
Esta rua impressionante fica a uma quadra da Plaza de Armas de Cusco. Apresenta um muro que, em algum momento da história, fez parte do palácio do Inca Roca, e que atualmente, é a residência do Arcebispo de Cusco. O nome Hatunrumiyuq indica a presença de uma grande pedra nesta rua, fazendo referência específica à famosa Pedra dos 12 Ângulos. A tradução pode ser entendida como “onde está a grande pedra”. Vamos analisar os componentes deste nome:
Hatun: Grande
Rumi: Pedra –
yuq: Um sufixo possessivo, que se traduz como “o que tem”.
2.- RUA PANTAQ
Para chegar, você deve percorrer a estreita Rua Recoleta, onde encontrará restaurantes, lojas e hostels com preços acessíveis. “Pantaq” significa “errado” ou “uma pessoa que comete erros”. Portanto, a Rua Pantaq pode ser interpretada como “a rua daquele que comete erros”, possivelmente porque é um beco sem saída. Vamos analisar os componentes quechuas:
Pantay: Cometer um erro
q: Um sufixo agentivo, transformando verbos, em substantivos da pessoa que realiza a ação.
3.- ASNOQCH’UTUN (ASNUQ CH’UTUN)
Asnoqch’utun fica em frente à Rua Pantaq, e suas escadas conduzem ao Mercado de San Blas, onde você pode encontrar alimentos frescos, saudáveis e deliciosos, a preços econômicos. Este nome, é uma mistura brincalhona do espanhol e do quechua, que se traduz como “focinho de burro”:
Asno: Em espanhol, burro.
q: Um sufixo genitivo que indica pertencimento ou “do burro”.
Ch’utu: Focinho -n: Um sufixo que representa “seu” (terceira pessoa), marcando a posse.
Neste caso, “Ch’utun” significa “seu focinho”.
Concluindo, “Asnoq ch’utun” pode ser traduzido como “do burro, seu focinho”.
4.- ATOQSAYK’UCHI (ATUQ SAYK’UCHI)
Esta íngreme ladeira leva você, do tradicional bairro de San Blas até a Avenida Circunvalación, que pode ser utilizada para chegar ao Cristo Blanco, nas montanhas que cercam Cusco. Este nome significa “Aquilo que cansa a raposa”, certamente em referência às intermináveis escadas que formam este caminho, extremamente longo. Se a raposa se cansa subindo, imagine como você se sentirá quando chegar ao topo! O nome desta rua é composto da seguinte forma:
Atuq: Raposa
Sayk’uy: Cansar-se
chi: Este sufixo causativo transforma os verbos.
Por isso, “Sayk’uchiy” significa “fazer cansar”.
5.- PUMAQCHUPAN
Pumaqchupan é uma rua próxima à famosa fonte de água, no final da Avenida El Sol. Literalmente significa “Cauda de Puma” e se refere à antiga forma que tinha a cidade sagrada de Cusco. Sabemos que os rios Tullumayu e Watanay formam a cauda do felino, na união onde foi construída a fonte de água que acabamos de mencionar. Este nome é composto da seguinte forma:
Puma: Obviamente, significa “puma”.
q: Já conhecemos este sufixo que, adicionado a “puma”, significa “do puma”.
Chupa: Cauda
n: Também aprendemos este sufixo que, adicionado a “chupa”, significa “sua cauda”.
Conclusão, o nome desta rua significa: “Do puma, sua cauda”.
6.- CCORICALLE (CALLE QORI)
Contam as lendas que esta rua se chama “Calle Qori” porque, em uma de suas casas vizinhas, estava escondido um tesouro de ouro. “Qori” é a palavra quechua para “ouro” e, certamente, você a encontrará, mais de uma vez, pela cidade de Cusco. Esta misteriosa rua fica no final da ladeira da Calle Amargura. Assim que você a percorre, sente um feitiço cair sobre você, como se estivesse viajando no tempo, rumo à outra dimensão.
7.- CALLE K’UICHIPUNKU (K’UYCHI PUNKU)
Você pode encontrar esta rua próxima ao majestoso Templo de Qorikancha. Logo após, também poderá encontrará o Paseo del Héroe, uma rua desconhecida pelos turistas, mas que deslumbra qualquer pessoa com sua arquitetura e suas grandiosas casas. Seu nome é realmente bonito e significa “Porta do Arco-Íris”, e, como resultado óbvio, é composto por dois termos:
K’uychi: Arco-Íris
Punku: Porta
8.- CALLE CHOQUECHAKA (CHOQE CHAKA)
Seu nome significa “Ponte Dourada”, e dizem que era uma ponte construída sobre o rio Tullumayu. Perto dali, há muitos restaurantes e hotéis, para todos os orçamentos: dos mais luxuosos aos mais econômicos.
- Choqe: Ouro (Sim, dissemos que ouro em quechua é “qori”, mas “choqe” é uma palavra menos usada que se refere a este metal sagrado que os incas usavam para representar a energia do sol.)
Chaka: Ponte
Aproveite a sua visita a Cusco, para aprender um pouco mais sobre o quechua, a língua indígena mais usada na América Latina, e sinta o verdadeiro coração das montanhas pulsando dentro de você.
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